sábado, 8 de maio de 2010

O amor do primeiro beijo


Bela, muito bela, na sala de aula. Apanhou um espelhinho para olhar-se. Mas, o que viu foi o rosto de João e seu sorriso. Não se olhou, mas viu-o. E estremeceu, da cabeça aos pés. Não estivesse sentada, cairia.

À saída das aulas fugiu num rebolado trêmulo, mas faceiro. O que se passou naquela cabecinha nem ela mesma poderia decifrar. Muito menos na sua carne, aquela noite. Não dormiu direito. Pela manhã, não tomou nem o café. Mais tarde, almoçou às pressas, vestiu o uniforme. Saia de pregas e blusa branquinha com o logotipo da escola gravado no bolso que lhe tapava o seio esquerdo. Seio adolescente pequeno, lindo, rosado e duro. Passou os olhos na silhueta de contornos recém-inaugurados. Beijou a mãe e pediu a benção ao pai. Saiu correndo e, na esquina, parou para enrolar aquela saia, contra seu desejo, tão comprida. Enrolou-a até acima dos joelhos. Apertou aquela bagunça toda com o cinto largo que lhe espremia a cintura, deixando-a mais fina. Agora, sim. Caminhou sorrindo serelepe, mas diferente dos outros dias. Aquela imagem ao espelho era um fascínio de pudor e fervor da pele. Sentimento estranho aquele. O que seria?

Entrou na sala e, assim que a aula começou, apanhou o espelhinho escondido. Que medo de ver o que desejava ver! E viu. Lá estava aquele sorriso sorrindo-lhe, de novo! Um príncipe encantado! Meleiou a cabeça para ela. O que fazer? Abaixou o espelho rapidamente e segurou o coração com o pensamento. Batia forte no pescoço.

- Posso falar com você? Acompanhá-la?

Ai, ai, ai... um frio grande pela espinha afora, um arrepio de gosto e medo.

- Meu pai... - ameaçou responder, sem ousar fitá-lo nos olhos diretamente.

- Eu sei que seu pai é bravo. Mas, quero só ir com você até a esquina... tomaremos cuidado...

Não teve coragem de negar pedido a olhar tão sedutor! Os hormônios em alvoroço suplicavam que aceitasse. Mas, falar o quê, se lhe faltava até o ar?

Caminharam lado a lado. As coleguinhas coviteiras iam atrás admirando, invejando ou amaldiçoando, sabe-se lá!

Ahnnn!!! A partir dalí seu primeiro namorado foi aquele príncipe encantado: loiro e lindo, meigo e doce... Dançaram Se piangi se ridi, deu-lhe seu primeiro beijo...

Ah! Aquele beijo... aquele primeiro beijo... Levantou o pezinho esquerdo e, ao enlevo daquele momento, abriu-se o chão, voejou por entre estrelas... Depois, fugiu como um passarinho envergonhado. Beijara seu primeiro beijo! Precisava urgente contar para sua irmã! Não houve nem tempo e nem coragem de dizer ao amado: - Não mais viverei sem você, nunca mais! - Era preciso fugir, só isso!

Caminhou, quase correndo. O corpo de menina moça rebolando nervoso, naquele trotar de potranca nova. Medo, só medo! De quem? Sabe-se lá! De tudo! Medo do beijo, do amado, do mundo, do seu pai tão bravo! Medo de si mesma, agora que sentira o sabor do primeiro beijo! Ah! Parecia antever que dali para frente se apaixonaria, sempre, ao primeiro beijo. Por isso, pela vida afora ofereceu tanto cuidado ao beijar. Sofrimento, na certa!

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Cabo Frio, 2009

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